CEC
A prática da circulação extracorpórea, nos dias
atuais, consiste na simulação mecânica de princípios da fisiologia humana,
relacionados à circulação, respiração e aos balanços hidro-eletrolítico e
ácido-base. Para a função celular, não faz diferença se a força que impulsiona
o sangue pelos capilares, provém da contração do coração ou de uma bomba
mecânica; também não importa à função celular, se o oxigênio é obtido através
das trocas gasosas no pulmão natural ou em um oxigenador. As duas primeiras
décadas da circulação extracorpórea, constituiram a fase essencialmente
mecânica, de melhor conhecimento e utilização dos materiais, do desenvolvimento
e construção de aparelhos e da otimização dos fluxos e das temperaturas para os
procedimentos. Reduzida a intensidade do trauma físico, a identificação e
caracterização das alterações induzidas pelo contato com os elementos celulares
e sistemas proteicos do sangue, marcaram o início da fase eminentemente
fisiológica.
Estima-se que hoje no Brasil sejam realizadas em
média 60.000 cirurgias ao ano com este método.
O uso da circulação
extracorpórea tem como objetivo realizar as funções cárdio-pulmonares;
preservando a integridade celular; evitando alterações estruturais; e assim
manter a função e o metabolismo dos órgãos e sistemas.
O surgimento deste procedimento só foi possível devido ao
desenvolvimento prévio de outras técnicas e conhecimentos necessários como:
·
1813:
Le Gallois desenvolve o primeiro de circulação artificial;
·
1848-58:
Brown-Sequard, conhecimento sobre a oxigenação sangüínea;
·
1882:
Von Schoeder desenvolve o primeiro oxigenador de bolhas;
·
1885:
Von Frey e Gruber constróem o primeiro sistema coração-pulmão artificial;
·
1916:
Howell e Mc Lean, descobrem a Heparina;
·
06/05/1953:
John e Mary Gibbon realizam a primeira cirurgia com cec com sucesso para o
fechamento de uma comunicação inter atrial.
O sangue desoxigenado, que cedeu
oxigênio aos tecidos chega ao átrio direito pelas Veias Cavas Superior e
Inferior; do Átrio direito passa para o ventrículo direito e depois é bombeado
para a Artéria Pulmonar e seus ramos para atravessar a rede capilar pulmonar.
Aqui, recebe oxigênio do ar e elimina gás carbônico. O sangue, agora
arterializado, chega ao Átrio esquerdo pela Veia Pulmonar, de onde passa para o
Ventrículo esquerdo e é bombeado para a Aorta e distribuído para os tecidos,
captando gás carbônico e cedendo oxigênio e nutrientes destes. Após isso, o
sangue atinge a rede de vênulas e veias que convergem para formar as Veias
Cavas Superior e Inferior, reiniciando o ciclo.
O sangue
venoso é desviado do coração e dos pulmões ao chegar no Átrio direito através
de cânulas colocadas nas Veias Cava Superior e Inferior. Daí, por uma linha
comum, o sangue é levado ao oxigenador, onde recebe oxigênio e elimina gás
carbônico e em seguida é coletado para ser reinfundido ao paciente. Passa agora
para um ponto do sistema arterial do paciente, geralmente a Aorta ascendente e
é distribuído para todos os órgãos, onde cede oxigênio e capta gás carbônico;
volta ao coração pelas Veias Cava Superior e Inferior, sendo o ciclo
reiniciado.
Essa máquina coração-pulmão artificial deve coletar
de 3 a 5 litros de sangue por minuto e distribuí-los ao oxigenador, coletá-los
novamente, separar o excesso de gás e bombear para o sistema arterial do
paciente. O processo deve ser contínuo,
pelo tempo necessário; sem alterar as propriedades biológicas do sangue ou a
integridade dos seus elementos e proteínas.
São
aparelhos usados em Circulação Extracorpórea para fazer as trocas gasosas, ou
seja, introduzir oxigênio no sangue e eliminar gás carbônico. Esses não
substituem os pulmões completamente porque os pulmões também exercem outras
funções como a neutralização farmacológica de diversas substancias e imunidade.
Os
oxigenadores diferem entre si pela forma como o oxigênio é oferecido ao sangue;
sendo assim há dois tipos:
·
Aqueles em que
há contato direto entre o gás e o sangue; as trocas gasosas são incentivadas
por um grau de turbulência produzida no sangue venoso. Inclui os oxigenadores
de películas e os oxigenadores de bolhas.
·
Aqueles sem
interface direta com o gás; existe uma membrana que separa o sangue do gás.
Características
importantes dos oxigenadores:
Esse tipo
de oxigenador é eficiente para procedimentos de menor duração; causam injuria
às células sangüíneas e plaquetas e também produzem microembolos.
A oxigenação do sangue por dispersão de
gás baseia-se na criação de uma enorme superfície de contato a partir de um
pequeno volume de sangue, quando o gás é distribuído em bolhas.
Esses oxigenadores possuem três câmaras
conectadas entre si, que o sangue deve atravessar, sendo um quarto componente,
o permutador de calor, que é utilizado para trocas térmicas. Os componentes
são:
Não há
contato entre o gás e o sangue, sendo separados por uma membrana; essas são
microporosas.
Esse tipo de oxigenador permite o
controle independente da transferência de oxigênio e eliminação de gás
carbônico. São mais fisiológicos principalmente pela ausência da interface
sangue e gás.
As trocas gasosas dependem da
permeabilidade da membrana e da diferença de pressão do gás (pressão
trans-membrana).
III 2.1- Reservatório Venoso
Pode ser
flácido ou rígido; coleta o sangue venoso do paciente e também pode armazenar
um volume de reserva ou de segurança. A ele é conectado o reservatório de
cardiotomia. O sangue passa por ele e vai para o oxigenador.
III 2.2- Reservatório de Cardiotomia
Aspira o
sangue no campo operatório e de eventuais perdas no circuito; além disso, faz a
descompressão de câmaras cardíacas para evitar sua distensão muscular e
conseqüente lesão.
IV - Bombas Propulsoras
As
bombas propulsoras apresentam-se sob dois tipos: bomba de Roletes e bomba
Centrífuga.
IV. 1- Bomba de Roletes
Gera um fluxo linear e não pulsátil. Apresenta uma
desvantagem: exerce uma pressão negativa elevada no orifício de entrada para
aspirar o liquido a ser propelido; ela não se enche passivamente, mas por
sucção, podendo aspirar e bombear ar.
Um segmento de tubo elástico é montado em um leito
rígido, em forma de ferradura, ocupando um segmento de círculo, no qual
excursionam dois cilindros opostos, eqüidistantes de um eixo central. À medida
que o eixo central gira, os roletes comprimem o tubo e impulsionam o seu
conteúdo.
IV. 2- Bomba Centrífuga
É conhecida como bomba cinética, ou seja, uma bomba
em que a ação de propulsão do sangue é realizada pela adição de energia
cinética produzida pela rotação de um elemento rotor.
No tipo mais comum, existe um conjunto de cones
concêntricos, dos quais o mais externo contém um orifício central de entrada e
um orifício lateral de saída. O cone mais interno tem um acoplamento magnético
com um rotor externo que o faz girar a elevadas rotações por minuto. O giro do
cone interno faz girar os demais cones, criando uma forca centrifuga e sua
transmissão ao sangue produz o fluxo do sangue.
Nessa bomba não há pré-carga e o fluxo depende
diretamente do número de rotações por minuto do cone interno.
IV. 3- Trauma gerado pelas bombas
Na circulação normal, o sangue é submetido a forças
físicas superiores às exercidas pela bomba extracorpórea. A pressão lateral
exercida pelo ventrículo esquerdo sobre o sangue durante sua contração é
superior à pressão máxima gerada por uma bomba arterial, por exemplo. Porém,
isso não causa traumatismo aos elementos do sangue, ao contrário das bombas
utilizadas para substituir sua função.
Entre os principais fatores traumáticos, podemos
citar: compressão do sangue entre estruturas colapsáveis, o aquecimento e o
atrito durante o bombeamento, a excessiva turbulência ou estagnação, ondas de
pressão positiva ou negativa elevadas e a turbulência do fluxo (alteração do
diâmetro dos tubos em que o sangue circula).
V-
Permutador de Calor
A circulação extracorpórea invariavelmente é acompanhada de
perda de calor. O fator mais importante é a exposição continuada do sangue ao
ambiente nas amplas superfícies do sistema extracorpóreo. A perda de calor e a
conseqüente queda de temperatura do paciente são proporcionais à duração do
procedimento.
Com a introdução da hipotermia como técnica
complementar de preservação metabólica, esse permutador também deve ter a
capacidade de resfriar e depois aquecer o paciente.
É importante observar a temperatura da água e do
pacientes para evitar gradientes excessivos (exemplo: a água em temperatura de
42° a 45°C causa hemólise acentuada e desnaturação protéica).Esse gradiente
deve ser de no máximo de 10°C. Isso devido às variações da solubilidade dos
gases à diferentes temperaturas. Geralmente, os gases tornam-se mais solúveis
nos líquidos à baixa temperatura. Assim temos:
VI-
Filtros na Circulação extracorpórea
São usados para diminuir a quantidade, no sangue que
vai retornar ao paciente, de microembolos formados nas maquinas da circulação
extracorpórea.
Tipos:
Os filtros integram a câmara de oxigenação e
desborbulhamento, reservatórios venosos rígidos dos oxigenadores de membrana e
os reservatórios de cardiotomia.
VI. 1- Filtro Arterial
Remove partículas e microbolhas gasosas do sangue
arterializado no oxigenador antes da sua infusão no paciente. Deve ser o ultimo
elemento da linha arterial para o paciente.
VI. 2- Filtro de Cardiotomia
Os aspiradores são a maior fonte de microembolias de
ar, aspirado do campo operatório e de outras partículas como agregados de
células destruídas, grumos de gordura e fragmentos de fio cirúrgico.
VI. 3- Filtro Bacteriano
Utilizados na linha de gás para prevenir contaminação
bacteriana e remover eventuais partículas originadas das fontes gasosas.
VII-
Circuitos
Definidos como conjunto de tubos e conectores que
fazem a interligação entre oxigenador, as bombas propulsoras e o paciente. Eles
permitem a realização dos procedimentos de perfusão.
Há uma variedade de circuitos, sendo relacionados às
necessidades especiais de certos procedimentos cirúrgicos.
O circuito típico ocorre da seguinte maneira: o
sangue drenado do átrio direito ou das veias Cava Superior ou Inferior vai para
o oxigenador de bolhas ou para o reservatório venoso dos oxigenadores de
membranas.
No oxigenador de bolhas, o sangue é oxigenado pela
dispersão de gás no seu interior, desborbulhado, filtrado e devolvido ao
sistema arterial do paciente pela Aorta ascendente.
No oxigenador de membranas, o sangue chega ao
reservatório venoso e é impulsionado pela bomba arterial através do
compartimento das membranas, onde por difusão capta oxigênio e elimina gás
carbônico; continua pela linha arterial para a Aorta ascendente.
VII. 1- Tubos do circuito
Os tubos do circuito devem ter o menor número
possível de conexões para evitar pontos de turbilhonamento do fluxo e maior
produção de trauma celular e hemólise.
O comprimento das linhas do circuito deve ser apenas
suficiente para as suas funções, evitando-se tubos desnecessariamente longos
que representam maior hemodiluição e maior risco de dobras ou angulações
acidentais.
O circuito básico da perfusão contém as linhas venosa
e arterial, duas ou três linhas aspiradoras, a linha de gás do oxigenador e as
linhas de admissão e drenagem da água no permutador de calor.
VII. 2- Canulação do paciente e conexão ao circuito
São construídas suturas em bolsa: duas na Aorta
ascendente, próxima à saída do tronco braquiocefálico, uma na auriculeta
direita e outra na parede livre do átrio direito, junto à entrada da Veia Cava
Inferior.
Após a administração de heparina, a região das bolsas
na Aorta ascendente é excluída em um clump vascular e a Aorta é incisada e a
cânula arterial introduzida na sua luz. A seguir, a cânula é conectada à linha
arterial.
Após a introdução da cânula arterial, o cirurgião
introduz as cânulas nas Veias Cavas Inferior e Superior, sendo essas cânulas
conectadas à linha venosa.
VIII-
Materiais
Os materiais usados para a
confecção dos aparelhos, além de compatíveis ao sistema, devem ser resistentes
ao impacto, para evitar fraturas durante o uso; biocompatíveis, não reagirem
com o sangue, nem liberar resíduos químicos; suas superfícies devem ser
polidas, sem arestas ou recessos para evitar acúmulos e também apresentar
cargas elétricas negativas e baixa absorção de água para não agredirem ou
reagirem com o sangue. De maneira a não alterar sua estrutura e osmolaridade
natural.
Mecanismo de Circulação Extracorpórea
IX-
Indicações
A tecnologia da circulação extracorporal
desenvolveu-se em conjunto com a cirurgia cardíaca, à partir dos anos
cinqüenta, tendo alcançado o estágio atual, à partir do final dos anos setenta,
oitenta.
Na medida em que a perfusão se tornou uma tecnologia
rotineira e segura na vida hospitalar, o seu uso foi estendido a outras
indicações, além da correção de lesões intra cardíacas e dos grandes vasos
torácicos. Usa-se, com alguma freqüência, a circulação extracorporal
convencional ou alguma das suas variantes, em diversas áreas da cirurgia, como
por exemplo:
1. Neurocirurgia - Para a ressecção de grandes aneurismas das artérias
intra cranianas, correção de malformações artério-venosas e remoção de certos
tumores cerebrais, num campo operatório exangue, pela utilização da paragem
circulatória total hipotérmica;
2. Cirurgia de tumores renais com invasão de veia cava inferior, com
técnicas semelhantes às utilizadas em neurocirurgia;
3. Cirurgias de tumores da traquéia, envolvendo a sua bifurcação, podem
ser realizadas, com o auxílio da perfusão, para a oxigenação do paciente
durante a remoção de segmentos da traquéia e dos grandes brônquios;
4. Cirurgias de transplante de fígado;
5. Em determinadas patologias pulmonares reversíveis, que cursam com grave
comprometimento do parênquima pulmonar e impedem as trocas gasosas eficazes,
utiliza-se a assistência ventilatória prolongada com oxigenadores de membrana,
que pode durar até vários dias.
6. Em casos onde após a cirurgia da lesão cardíaca, a função contráctil do
coração não se recupera adequadamente, a perfusão pode ser continuada, como uma
forma de suporte circulatório, podendo também se prolongar, conforme as
necessidades individuais;
7. Como método exclusivo de assistência circulatória, para falência de um
ou de ambos os ventrículos, em doentes não operados ou candidatos a cirurgia
imediata;
8. Como adjunto de suporte circulatório na sala de hemodinâmica, para
determinados casos de angioplastia coronária, em que a cirurgia é
contra-indicada;
9. Como veículo de concentrações elevadas de drogas quimioterápicas ou para
produzir hipertermia regional, em segmentos específicos do organismo,
geralmente as extremidades, no tratamento de determinados tipos de cancro,
constituindo as técnicas de perfusão regional;
10. Nos países de clima frio da Europa e da América do Norte, para o
reaquecimento lento, com suporte circulatório de doentes hipotérmicos pela
exposição acidental ao frio ambiente;
11. A circulação extracorpórea, um
procedimento standard em cirurgia cardíaca, apenas excepcionalmente é usada
para o tratamento de intoxicação severa por drogas, na maioria das vezes, com
resultados pobres.
X-
Coagulação
O sangue está líquido quando em
contato com superfícies cardíacas (endocárdio) e vasos sanguíneos (endotélio),
mas facilmente se coagula quando em contato com qualquer outra superfície
(biológica ou não). Durante a CEC as plaquetas sofrem alterações que dificultam
a hemostasia e a coagulação:
·
Tem a forma alterada, passam a ser arredondadas;
·
Sofrem agregação primária;
·
Sofrem agregação secundária;
·
Depleção granular.
A propulsão do sangue em sistemas não revestidos
produz agregação plaquetária induzida pelas forças de atrito que pode ser
prevenida pela administração de substâncias que bloqueiam a ligação do fator de
Von Willebrand aos receptores glicoproteicos Ib das plaquetas. O efeito do
bombeamento do sangue sobre as plaquetas é mascarado nos sistemas revestidos
com albumina, o que não acontece nos circuitos não revestidos, em virtude da
influência dominante do contato do sangue com os materiais do circuito.
O acesso ao coração implica na
interrupção da sua atividade. Para isso é preciso métodos que impeçam lesões
decorrentes da alteração da oxigenação e metabolismo.
Métodos
A ultrafiltração (hemoconcentração) é um recurso terapêutico
de grande utilidade que, freqüentemente é associado à circulação extracorpórea
convencional. As indicações da ultrafiltração continuam à crescer, à medida que
as equipes ganham experiência com o método. Na atualidade, com o uso rotineiro
da cardioplegia (cristalóide ou sangüínea) não é raro que os níveis do potássio
sérico, ao final da perfusão, estejam elevados.
Em determinados pacientes, os valores do potássio podem
atingir os 6,5 a 7 mEq/l e produzir bradicardia, bloqueio da condução
atrio-ventricular ou mesmo assistolia.
Quando a função renal é inadequada ou quando a saída de
perfusão pode ser prejudicada pelos efeitos da hiperpotassemia, podemos
utilizar a ultrafiltração, para a remoção rápida de potássio.
·
Hipotermia
McQuiston em 1950, realizou a primeira cirurgia com
associação à hipotermia.
A queda da temperatura tem como finalidade principal
reduzir as reações químicas e enzimáticas das células, diminuindo assim, o metabolismo tecidual. A redução de 10 ºC da
temperatura do organismo, diminui de 2-3 vezes as reações celulares.
Não se
evidenciou vantagens práticas do uso de temperaturas abaixo de 15 ºC. Essa
prática durante a CEC pode alterar a distribuição normal do fluxo de perfusão
orgânica, comprometendo a oferta de oxigênio.
XIV-
Perfusão
O perfusionista é o profissional responsável pelo
monitoramento da máquina de perfusão, mais conhecida como coração/pulmão
artificial. Este profissional deve não apenas saber controlar a máquina, mas
também ser capaz de interpretar uma série de ocorrências durante a cirurgia,
como, por exemplo, alterações na pressão arterial e na quantidade de gases no
sangue do paciente, dados essenciais para o sucesso da operação.
Na prática, comum denomina-se o
sistema utilizado para a circulação extracorporal de máquina coração-pulmão
artificial, aparelho coração-pulmão artificial, ou, simplesmente, bomba
coração-pulmão.
O membro da equipe que opera a máquina e os aparelhos
que substituem as funções do coração e dos pulmões é o CARDIOPNEUMOLOGISTA
conhecido como Perfusionista. É um membro da equipe cirúrgica com
pré-requisitos definidos com conhecimentos de fisiologia circulatória,
respiratória, sanguínea, renal, e esterilização. Com treinamento específico no
planeamento e administração dos procedimentos de circulação extracorporal. O
perfusionista trabalha diretamente sob as ordens do cirurgião cardiovascular.
A utilização de uma velha substância reduz a chance
de complicações em pacientes que passaram por cirurgias cardíacas. Um dos
resultados é a diminuição em cerca de 25% no tempo que os pacientes precisam
ficar intubados - ou seja, utilizando as máquinas para respiração artificial
após a cirurgia.
As atribuições específicas do perfusionista, durante
o seu trabalho, podem ser relacionadas da seguinte forma:
·
Planeia a
previsão, requisição e controle dos materiais e equipamentos utilizados nos
procedimentos de circulação extracorporal, especialmente oxigenadores,
circuitos, reservatórios, filtros, cânulas e outros acessórios,
·
Examina e testa
os componentes da máquina coração-pulmão, controla sua manutenção preventiva e
corretiva, conservando-a, permanentemente, em condições de uso,
·
Obtém
informações com a equipe médica, sobre a história clínica do doente; verifica a
existência de doenças ou condições que possam interferir na execução, ou
requerer cuidados especiais com a condução, da circulação extracorporal, tais
como diabetes, hipertensão arterial, doenças endócrinas, uso de diuréticos,
digitálicos e anticoagulantes,
·
Calcula as doses
de heparina para a anticoagulação sistémica e de protamina, para sua posterior
neutralização,
·
Fornece ao
cirurgião os calibres mínimos das cânulas aórtica e venosas, adequadas aos
fluxos sanguíneos a serem utilizados,
·
Obtém do
anestesista os parâmetros hemodinâmicos do paciente, desde a indução
anestésica, para a sua manutenção durante a perfusão,
·
Sob o comando do
cirurgião, executa a circulação do sangue e sua oxigenação extracorporal,
monitoriza as pressões arteriais e venosas, diurese, tensão dos gases
sanguíneos, hematócrito, nível de anticoagulação e promove as correções
necessárias,
·
Induz o grau de
hipotermia sistémica determinado pelo cirurgião, através do arrefecimento do
sangue no circuito do oxigenador, para preservação metabólica do sistema
nervoso central e demais sistemas orgânicos; reaquece o paciente ao final do
procedimento,
·
Prepara e
administra as soluções destinadas à proteção do miocárdio, através de
equipamentos e circuitos especiais para aquela finalidade quando necessário,
·
Administra os
medicamentos necessários ao doente, no circuito, sob supervisão do anestesista,
como inotrópicos, vasopressores, vasodilatadores e agentes anestésicos,
·
Encerra o
procedimento, retornando a ventilação ao anestesista, após o coração reassumir
as suas funções, mantendo a volemia do paciente e as condições hemodinâmicas
necessárias ao bom funcionamento cárdio-respiratório,
·
Preenche a ficha
de perfusão que contém todos os dados relativos ao procedimento, bem como o
balanço hídrico e sanguíneo, para orientação do tratamento pós-operatório,
·
Administra, com
o mesmo equipamento, assistência circulatório mecânica temporária, quando
necessária.
A lista de atribuições acima enumeradas corresponde à
prática geral da circulação extracorporal.
A ocorrência de fibrinólise em associação com a
circulação extracorpórea é conhecida desde os anos sessenta. As intervenções de
natureza farmacológica na prevenção do sangramento pós-perfusão, baseiam-se na
administração de diversos agentes, dos quais os mais eficazes parecem ser o
inibidor das proteases aprotinina e os análogos da lisina, como o ácido
epsilon-aminocaproico e o ácido tranexâmico.
A primeira sugestão do uso da aprotinina em cirurgia
cardíaca foi de Tice, em 1964. Na época não foi demonstrado efeito
significativo porque a droga foi usada em doses baixas para o tratamento da
hemorragia; não na sua profilaxia, como nos dias atuais.
A administração profilática dos antifibrinolíticos contribui
para reduzir o sangramento pós-perfusão em 40 a 60%.
Þ Hemodiluição
Os cristalóides representam 30ml/Kg, e com essa quantidade,
geram baixa viscosidade sangüínea.
Quando o "priming" dos circuitos da circulação
extracorpórea é constituído exclusivamente de soluções cristalóides, ocorre
redução da pressão oncótica que resulta em aumento do líquido extravascular; há
necessidade de adicionar mais líquidos durante o procedimento. O manitol é
freqüentemente utilizado no perfusato, para contribuir na redução deste efeito.
Além disso, o manitol é um diurético osmótico e um neutralizador de radicais
livres. Em pesquisa relativa ao conteúdo do perfusato, o manitol era utilizado
em 37% dos casos, em doses que variavam de 10 a 50g.
ÞContato com superfície estranha
As condições anormais a que o sangue é submetido durante a
circulação extracorpórea desencadeiam uma ativação da resposta inflamatória em
todos os pacientes, de vários graus. A ativação do complemento e a liberação de
citoquinas caracterizam essa resposta. A maioria dos mediadores inflamatórios
tem um peso molecular abaixo do diâmetro dos poros dos ultrafiltros comumente
usados, que devem permitir a sua livre filtração. Contudo, foi demonstrado que
alguns mediadores não atravessam as membranas, mesmo sendo de tamanho
suficiente para atravessá-las.
Luiz Antônio Brasil, avaliou o uso de um corticóide -
substância normalmente usada para combater inflamações. O teste foi para
combater a inflamação que o paciente tem em todo o organismo após cirurgias
mais complicadas, que utilizam circulação extracorpórea. Algumas cirurgias
envolvem a manipulação do coração e, por isso, exigem cardioplegia.
O problema é que, quando usada a cec, pode acontecer
uma inflamação no organismo do paciente, às vezes muito grave. Para previnir a
reação investigou-se a METILPREDISOLONA, a qual atua nos principais fatores que
desencadeiam a inflamação. O corticóide bloqueia toda a cadeia de substâncias
que são liberadas, além da redução do tempo que o paciente fica no respirador
mecânico, obteve-se menor sangramento pós-operatório, em média, a redução foi
de 30% no volume de sangue perdido e apresentaram menor taquicardia.
ÞHipotermia
Tem sido publicado que a circulação extracorpórea causa
alterações da resistência vascular sistêmica (RVS) dependentes da temperatura,
já que a CEC induz vasoconstrição sistêmica, em condições de hipotermia. Por
outro lado, uma RVS relativamente baixa acompanhada de um estado hiperdinâmico
ocorre freqüentemente na perfusão normotérmica. As alterações da RVS na
circulação extracorpórea tem sido atribuídas à hemodiluição, à redução da
viscosidade do sangue, hiperpotassemia, reflexos baroreceptores e, especialmente,
alterações nas substâncias vasoativas. Entretanto, o fator-chave destas
substâncias vasoativas, em termos de RVS durante a CEC, permanece desconhecido.
O óxido nítrico (NO) é um dos vasodilatadores mais potentes
entre as substâncias vasodilatadoras conhecidas. Alguns estudos tem demonstrado
apenas as alterações dos níveis séricos do NO durante a CEC, mas poucos estudos
tem elucidado o seu papel na regulação da resistência vascular periférica,
durante e após a CEC. O óxido nítrico pode, portanto, regular a resistência
vascular, durante e após a perfusão.
Em qualquer processo, é sempre desejável que a
técnica utilizada seja minimamente invasiva, ou seja o sistema não deverá ser
alterado pelo método utilizado. Medidas absolutamente não invasivas são
difíceis, pois para possibilitar o registro das medidas são necessárias
informações provenientes do objeto fenômeno observado. Estudar o comportamento
do sangue dentro destes elementos utilizados pela CEC sem alterar
substancialmente o seu curso requer técnicas relativamente sofisticadas. A
Velocimetria Doppler Laser (VDL) tem se mostrado ideal para estes procedimentos
por ter seus sinais de natureza óptica. Dentre as diversas reações suscitadas
ao organismo pelo uso da CEC, que produzem alterações do equilíbrio fisiológico
de natureza hemodinâmica, física e química, ressaltamos as alterações físicas
geradas pelo trauma mecânico sofrido pelas células do sangue.
O caráter oscilante do fluxo de uma bomba de roletes
é bastante significativo, e a bomba centrífuga produz um deslocamento linear do
fluxo, o que permite isolar efeitos estáticos dos hemodinâmicos, que poderiam
causar dano dinâmico resultante da aceleração e desaceleração rápida aplicada a
elementos figuráveis do sangue, como as hemáceas.
Não
há grandes variações do perfil do escoamento dentro do reservatório de
cardioplegia em função dos fluxos utilizados. Por outro lado observa-se que as
velocidades dentro do reservatório aumentam com o aumento do fluxo, guardando
um padrão de semelhança entre as situações equivalente para os diferentes
fluxos, pois há uma pequena impedância no caminho do fluxo, o que nos dá uma
idéia da localização de zonas de grande turbulência. Há também confluência de
fluxo, representando uma zona de estagnação do fluido, e as demais zonas podem
ser definidas como normais ou de baixa turbulência, isso valida a Velocimetria
Doppler a Laser como um método de estudo para otimização dos componentes descartáveis
utilizados em circulação extracorpórea.
ÞVOLEMIA
O balanço hídrico dos pacientes submetidos à cirurgia
cardíaca com circulação extracorpórea é crítico, devido à influência de
diversos fatores da perfusão capazes de acentuar o extravasamento de líquido
para o terceiro espaço. O edema intersticial resultante contribui para a
disfunção de diversos órgãos, especialmente o miocárdio, os pulmões e o
cérebro.
É freqüente um balanço hídrico positivo que se inicia
na sala de operações e se prolonga pelos primeiros dias de pós-operatório. Em
determinados pacientes, a retenção hídrica pode ser de grande magnitude e
contribuir substancialmente para o prolongamento da convalescença.
Pacientes em insuficiência cardíaca congestiva e uso
crônico de diuréticos, portadores de endocardite bacteriana e pacientes
espoliados, de um modo geral, mais freqüentemente apresentam edema e aumento
significativo do peso, no pós-operatório imediato.
A CEC predispõe ao extravasamento de líquidos para
espaço intersticial por diversos mecanismos, dentre os quais ressaltam:
·
Resposta
inflamatória sistêmica do organismo (RISO);
·
Liberação de
substâncias vasoativas;
·
Hemodiluição com
soluções cristalóides;
·
Redução da
pressão coloido-osmótica (oncótica).
Dentre as medidas destinadas a reduzir o
extravasamento de líquido para o terceiro espaço destacam-se:
1.
Medidas
destinadas a reduzir a intensidade da resposta inflamatória generalizada do
organismo: Estas medidas ainda são de eficácia duvidosa. Consistem basicamente
no uso de circuitos revestidos de heparina, circuitos
"pré-condicionados" com albumina e administração de corticoesteroides
no início da cirurgia.
2.
Medidas
destinadas a reduzir a oferta de líquidos:
São bastante eficazes. Consistem na administração
criteriosa de líquidos pelo anestesista e pelo perfusionista. A restrição do
uso de agentes venodilatadores, como a nitroglicerina e o fentanyl, contribui
para manter as pressões de enchimento e reduz a necessidade de infusão
adicional de líquidos. A administração de pequenas doses de fenilefrina também
é eficaz na redução da necessidade de administrar volume. O ajuste do volume do
priming ao mínimo necessário e, quando indicado, o uso de colóides (haemmacel)
contribuem para a administração de menores volumes de líquidos na sala de
operações.
3.
Medidas
destinadas a aumentar a eliminação de líquidos:
São também bastante eficazes. Seu uso depende das
necessidades de cada paciente. A medida mais simples consiste na administração
de diuréticos, como a furosemida, além do manitol habitualmente colocado no
perfusato. A administração da furosemida em infusão contínua pode ser bastante
eficaz, principalmente se associada à hidroclortiazida. A associação da
furosemida com o manitol, para infusão contínua, além da dose adicionada ao
perfusato, pode, em certas circunstâncias contribuir para preservar a função
renal e a diurese, durante a perfusão.
Após o final da perfusão, um drip de dopamina em
doses "fisiológicas" (2-5 ug/kg/min) pode estimular e manter a
diurese contínua e abundante (acima de 100-150 ml/hora). Certos pacientes podem
ser beneficiados pela associação da Pitressina, para favorecer a diurese. Além
do uso dos diuréticos, os métodos mecânicos como a ultrafiltração convencional
ou modificada podem ser necessários, já que permite a remoção de grandes
volumes de líquido em um reduzido intervalo de tempo.
As complicações mais comuns, normalmente são:
·
Inversão da
linha de descompressão de VE.
·
Alterações da
velocidade do fluxo de perfusão:
A possibilidade de um acidente vir a acontecer pode
ser um argumento favorável ao uso das técnicas de proteção miocárdica sem
cardioplegia, para a revascularização do miocárdio.
XVIII-
Referências
·
Gomar, C.; Mata,
M. T.; Pomar, J. L.. FISIOPATOLOGIA Y TECNICAS DE CIRCULACION EXTRACORPOREA.
Ed. Asociación Española de Perfusionistas. 2003. Barcelona.
·
Souza, M.H.L.;
Elias, D.O..FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPOREA. Projeto e Produção
Editorial: Centro Editorial Alfa Rio, 1995. RJ.
·
Filho, G. F.
TEMAS ATUAIS EMCIRCULAÇÃO EXTRACORPOREA. Sociedade Brasileira de Circulação
Extracorpórea – SBCEC. 1997. Porto Alegre.
·
Braunwald, E. et al. HARRISON’S: MANUAL OF MEDICINE. 15th
ed.: McGraw-Hill Professional, 2001. USA.
·
SOCIEDADE BRASILEIRA
DE CIRCULAÇÃO EXTRACORPOREA.
·
SOCIEDADE
BRASILEIRA DE CIRURGIA CARDIOVASCULAR.
·
WWW.SOCESP.ORG.BR