Pericardite
Definição:
Pericardite é uma inflamação do pericárdio visceral e ou parietal. As
pericardites, geralmente, são secundárias a distúrbios no coração ou próximo a
este, mas às vezes são produzidos por distúrbios sistêmicos ou por metástases
de neoplasias que se encontram em órgãos distantes. A pericardite primária é
rara e quase sempre de origem viral.
Principais funções
do pericárdio:
1. Fixar o coração em posição geométrica adequada e protegê-lo de
infecções provenientes de estruturas vizinhas. Isto é, respaldado pela maior
incidência de infecções nos pacientes sem pericárdio.
2. Evitar a hiperdistensão das câmaras cardíacas, já que a pressão
negativa intrapericárdica facilita o afluxo de sangue no átrio direito,
constituindo um elemento importante na eficácia da bomba cardíaca. Os pacientes
pericardiectomizados comportam-se normalmente quando em repouso ou submetidos a
esforços discretos, mas a "performance" cardíaca fica prejudicada nos
esforços extremos.
Etiologia:
São várias as causas, sendo as principais as seguintes:
1.
Idiopática ou viral
2.
Infecciosa (Virótica, bacteriana, tuberculose ou por fungos)
3.
Doenças auto imunes (febre reumática aguda, esclerodermia,
doença mista do tecido conjuntivo)
4.
Infarto agudo do miocárdio
5.
Uremia em associação com hemodiálise
6.
Outras colagenoses (artrite reumatóide, lúpus eritematoso
sistêmico, doença de kussmaul-maier)
7.
Tumores metastásicos
8.
Síndrome pós-infarto do miocárdio (síndrome de Dressler)
9.
Síndrome pós pericardiectomia
10.
Mixedema
11.
Irradiação
12.
Trauma (cateterismo, marcapasso, trauma direto e indireto)
13.
Medicamentos (procaína, hidralazina)
14.
Aneurisma dissecante de aorta
15.
Quilopericardio
16.
Outros distúrbios inflamatórios (sarcoidose, amiloidose,
doença intestinal inflamatória, artrite temporal)
Obs: Ultimamente
devemos pesquisar a “SIDA” (síndrome da imunodeficiência adquirida) como uma
causa importante de pericardite, particularmente nos indivíduos de risco.
A pericardite pode ser aguda (até 6 semanas),
subaguda (até 6 meses) e crônica (além de 6 meses).
As pericardites agudas podem ser fibrinosas, serofibrinosas,
purulentas, hemorrágicas, quilosas etc. Entretanto o importante é tentar
reconhecer a etiologia das mesmas.
As pericardites por neoplasias metastáticas são geralmente decorrentes
do pulmão, mama, linfoma, leucemia e comumente dos melanomas.
Incidência:
É difícil de ser determinada, sendo mais alta em necropsias do que
clinicamente. A mais freqüente de todas é a pericardite do infarto agudo do
miocárdio e da tuberculose, em que seu diagnóstico é freqüentemente obscurecido
pelo próprio infarto, não necessitando terapêutica. Segue-se a
pericardite aguda viral ou, mais precisamente, a idiopática, devendo-se usar o
termo viral quando se conseguir provar a etiologia (geralmente influenza e
Coxsackie), devendo-se incluir também o vírus da caxumba e o HIV.
A incidência geral antes de 1930 (em necropsias) era de 11%,
compreendendo a pericardite aguda 5%. De 1934 a 1950, num estudo amplo, a
incidência diminuiu para 5%, e a aguda para 2,5%. A partir de então, numa
revisão de 104 mil e 400 necropsias, sua incidência geral passou a 0,7%. É mais
comum em homens do que em mulheres, numa proporção de 3:2, e em adultos é mais
freqüente do que em crianças.
A pericardite bacteriana purulenta com tamponamento e a pericardite
reumática constituem a maior parte dos casos na infância.
A pericardite da artrite reumatóide, no adulto, ocorre quase sempre com
a clínica da mesma e, na criança, pode ser a primeira manifestação da enfermidade.
A partir da era antibiótica houve diminuição das pericardites
bacterianas e aumento das viróticas, permanecendo a tuberculose estável (3 a
10% das pericardites agudas).
Classificação:
1. Quanto à duração:
- Aguda:
dura até 6 semanas
- Subaguda: dura até 6
meses
- Crônica: dura mais que 6 meses
2. Quanto ao tipo de líquido acumulado
no foco pericárdico:
- Seroso:
Este tipo de líquido e encontrado
nas pericardites produzidas por inflamações decorrentes da doença reumática, do
lúpus eritematoso sistematizado, da esclerodermia, da uremia e de tumores
primários ou metastáticos.
Em muitos casos a etiologia
permanecerá desconhecida.
Morfologicamente, qualquer que seja
o agente causal existe uma reação inflamatória das superfícies epi e
pericárdicas, com escasso número de leucócitos polimorfonucleares, linfócitos e
histiócitos.
Sendo um fenômeno puramente
exsudativo, o derrame forma-se lentamente e, portanto, raramente produz um
aumento de pressão suficiente para prejudicar a função cardíaca.
- Fibrinoso e serofibrinoso:
São os tipos mais freqüentes de
pericardite. As causas mais comuns são a uremia, a febre reumática, o infarto
agudo do miocárdio, a irradiação do tórax, o Lúpus e o traumatismo.
Como acontece em todos os
exsudados, a fibrina pode ser digerida com resolução do exsudado, ou pode ser
organizada. Às vezes a organização e as aderências fibrosas levam a obliteração
total do saco pericárdico.
Esta fibrose produz aderências filamentosas delicadas, e chamada de
pericardite adesiva e só raramente dificulta ou restringe a função cardíaca.
Do ponto de vista propedêutico, a
presença de atrito pericárdico é a característica principal deste tipo de
pericardite.
Raramente este tipo de pericardite
deixa seqüelas graves.
- Purulento ou supurativo:
Este forma de derrame pericárdico
geralmente ocorre pela presença de bactérias, fungos ou parasitas no processo.
Os microorganismos invadem a
cavidade pericárdica por extensão direta de inflamações vizinhas tais como empiema
pleural, pneumonia lobar, infecções mediastinais, cardiotomia..
Ou por invasão através do epicárdio, por contaminação via linfática ou
hematogênica.
Os sinais de infecção sistêmica são
mais acentuados com picos febris e bacteremia.
A evolução, geralmente, é para
organização do processo, com conseqüente pericardite constritiva.
- Hemorrágico:
A pericardite hemorrágica consiste
em uma exsudação de sangue misturado com fibrina e pus. Geralmente resulta de
processo tuberculoso ou do comprometimento neoplásico do pericárdio,
geralmente, relacionado com melanomas, linfomas, leucemias, carcinomas
pulmonares ou mamários.
Clinicamente, comporta-se como
pericardite supurativa, evoluindo para a resolução ou a organização, com ou sem
calcificação.
- Caseoso:
A caseação dentro do saco
pericárdico é, até provem o contrário, de origem tuberculosa.
A pericardite caseosa é o
antecedente mais freqüente de pericardite constritiva crônica.
Fisiopatologia:
O folheto mais fino do pericárdio é
o visceral (epicárdio), com 1mm de espessura e coberto por uma superfície
serosa. A camada serosa do pericárdio parietal continua com a camada serosa do
pericárdio visceral. Separam-se por uma cavidade virtual contendo uma pequena
quantidade de líquido seroso e límpido de até 50ml. Diante de inflamação ou de
uma injúria, o pericárdio reage formando um exsudato (derrame pericárdico) em
volume variável. É claro que, se o líquido acumular rapidamente ou o volume for
grande, os ventrículos poderão ser comprimidos. Na prática, 1 a 2 litros no
saco pericárdico acumulado lentamente é bem tolerado. No processo de
cicatrização, o pericárdio se espessa e algumas vezes calcifica, podendo então
surgir a constrição. Obviamente, com a constrição,
eleva-se a pressão venosa, inclusive com aumento inspiratório (sinal de
Kussmaul).
O processo de espessamento do pericárdio pode se estender ao miocárdio,
causando às vezes uma redução na contratilidade miocárdica, embora o principal
problema da pericardite constritiva seja a hipodiastolia (restrição ao
enchimento ventricular).
Com a restrição ao enchimento ventricular, a pressão diastólica
ventricular direita e esquerda aumenta, levando a grandes pressões atriais
médias. Certamente, a aceleração do retorno venoso das veias cavas para o átrio
direito, que normalmente ocorre na inspiração, vai estar impedida na
pericardite constritiva. Assim a pressão venosa média não diminuirá na
inspiração e às vezes chegará a aumentar (sinal de Kussmaul).
Pericardite aguda:
- Quadro clínico e
diagnóstico:
Dor torácica é a queixa principal, seu caráter e localização são
variáveis, freqüentemente esta localizada na região retroesternal e precordial
esquerda e freqüentemente irradia-se para a crista do trapézio e pescoço.
Ocasionalmente ela pode se localizar no epigastro, mimetizando um abdômen
agudo, ou ter uma característica de peso ou opressão, com irradiação para braço
esquerdo semelhante a dor isquêmica do infarto do miocárdio. A dor da
pericardite é contínua, que aumenta com a inspiração profunda. O alívio ocorre
com a posição genu-peitoral (posição de “prece maometana” – paciente fica
sentado curvando-se para frente, colocando o peito em direção aos joelhos) que
o paciente assume instintivamente. A dor é resultante do atrito entre os folhetos
pericárdicos e melhora quando existe acúmulo de líquido (derrame pericárdico) e
estes folhetos ficam afastados.
Pode haver também dispnéia que pode estar relacionada com a necessidade
de respirar superficialmente para evitar a grande dor torácica pericardiopleurítica.
A dispnéia também pode ser agravada pelo desenvolvimento de efusão pericárdica
que comprime os brônquios e o parênquima pulmonar adjacente.
Outros sintomas que podem se apresentar na
pericardite aguda são: Ortopnéia, taquicardia, tosse e tamponamento
cardíaco.Ainda pode apresentar febre, dependendo do agente etilógico.
O atrito pericárdico
é o achado patognomônico, que quando presente fecha o diagnóstico, mas este
sinal nem sempre esta presente. Deve ser pesquisado com o paciente em várias
posições, ocorrendo muitas vezes à medida que o coração é mobilizado e os
folhetos pericárdicos se aproximam.
O atrito pericárdico pode ser
palpado como um roçar sob a mão do examinador, recebendo o nome de frêmito
pericárdico; ou pode ser auscultado como um sopro sistólico (esse atrito
pericárdico é descrito classicamente como tendo três componentes que estão
relacionados ao movimento cardíaco durante a sístole atrial a sístole
ventricular e o enchimento ventricular rápido na diástole inicial).
Freqüentemente o atrito pericárdico
apresenta-se com um ruído curto e rangente, como “ruído de couro de sapato
novo", audível na sístole e diástole, devendo ser diferenciado de sopro
contínuo. A sensibilização da ausculta e feita com a compressão da parte do
diafragma do estetoscópio contra a parede torácica.
- Exames:
- ECG:
As seqüências das modificações
eletrocardiografias podem ser divididas em quatro estágios:
-Estágio 1:
Elevação do segmento ST com concavidade para cima em todas derivações exceto AVR
e V1, mas com ausência de alterações recíprocas do segmento ST. As ondas T
podem estar altas e pontiagudas e pode haver infra
desnivelamento de segmento PR (achado muito sugestivo de pericardite
aguda) . Pode ocorrer baixa voltagem do complexo QRS.
-Estágio 2
: Retorno do segmento ST à linha de base e achatamento da onda T .
-Estágio 3:
Ocorre inversão da onda T.
-Estágio 4:
Resolução gradual da inversão da onda T, porém dependente da etiologia, podendo
ficar invertida por um longo período de tempo.
As arritmias, como
a fibrilação e o flutter atrial, são raras na pericardite, em geral refletem o
comprometimento simultâneo do miocárdio.
O diagnóstico
eletrocardiográfico diferencial da pericardite aguda deve ser feito entre
várias condições:
-IAM
-Repolarização precoce
-Miocardite
-Embolia pulmonar
-Acidente cerebrovascular
-Pneumotórax
-Aneurisma ventricular
Embora haja exceções, diferentemente do infarto agudo do miocárdio, em
que as alterações de repolarização são localizadas e mais intensas, na
pericardite as alterações são difusas e pouco intensas.
As alterações podem ser transitórias, com lesão subepicárdica e padrão
simpaticotônico, sobretudo em parede inferior, sem inversão recíproca nas
derivações contrárias. Taquicardia sinusal e ondas T de comportamento variável
somente retornarão à linha de base após algumas semanas, diferente do infarto
agudo do miocárdio. Obviamente, não ocorrerá onda de necrose (q), exceto se
houver perimiocardite.
Enquanto na pericardite o padrão de isquemia aparece em média em uma
semana, no infarto agudo do miocárdio a injúria e a isquemia são concomitantes.
É valorizado por alguns o ST côncavo na pericardite e convexo na insuficiência
coronária. Pode haver diminuição de voltagem do QRS, mas com P normal, porém,
no derrame pericárdico, pode haver diminuição da voltagem de P.
A alteração eletrocardiográfica mais característica das pericardites é
o desnivelamento do segmento PR.
-Exame radiológico:
Radiografia de
tórax é inespecífica, sendo normal a área cardíaca quando o derrame for
inferior a 250 ml. Podem ocorrer graus variados de cardiomegalia, adquirindo
imagem indistinguível das miocardiopatias, mas as
vezes pode se ter uma “pista diagnóstica” do processo pericárdico, por exemplo,
tumor de pulmão, tuberculose, etc... . Uma radiografia de tórax normal não
exclui a presença de pericardite, porque pequena quantidade de líquido não é
detectada, mas nos derrames mais volumosos pode desaparecer o arco aórtico e os
demais contornos do coração, configurando um aspecto em moringa e, diferente da
insuficiência cardíaca congestiva, os pulmões são de transparência normal. No
entanto contornos irregulares podem estar presentes devido a derrame septado.
aumentos e alterações
na silhueta cardíaca só ocorrem quando o volume derrame pericárdico ultrapassa
250 ml.
- Ecodopplercardiograma:
È útil para
detectar derrames pericárdicos mesmo quando pequenos. Não é, entretanto, um
exame diagnóstico porque existem pericardites secas, sem derrame, e os derrames
pericárdicos podem ter etiologias das mais variadas. Detecta espessamento de
pericárdio e se há ou não aumento da área cardíaca
- Tratamento:
1. Vai depender da etiologia. Na pericardite aguda benigna, em 25% dos
casos pode haver recorrência, às vezes com grande derrame, podendo evoluir para
constrição. A recorrência de pericardite opõe-se à suspeição diagnóstica de
tuberculose.
2. Caso a dor seja intensa, usa-se morfina (2
a 5mg, IV) ou meperidina (25 a 75mg IV, lentamente, como solução diluída).
3. Antiinflamatórios: ácido acetilsalicílico (500mg de 6/6h, VO) ou
indometacina (25-50mg, 8/8h VO).
4. Corticóide nos casos refratários ou de constrição. No caso da
tuberculose, o uso da prednisona 20 a 40mg é obrigatório porque diminui a incidência
de constrição de modo acentuado, reduzindo grandemente a mortalidade.
Utiliza-se o corticosteróide enquanto houver derrame.
5. Drenagem cirúrgica,que além de aliviadora é
diagnóstica, sendo mandatária na pericardite purulenta bacteriana ou quando
houver suspeita de tamponamento.
6. Em caso de etiologia tuberculosa, fazemos a rifampicina 600mg por
dia, por 6 meses; etambutol 200mg/dia, por 6 meses;
isoniazida 400mg/dia, por 2 anos, para uma quimioprofilaxia (as referidas doses
são para adulto). Ultimamente temos utilizado o esquema RIP (Rifampicina,
Isoniazida e Pirazinamida), cujas doses são 600, 400 e 2.000mg/dia,
respectivamente, nos primeiros dois meses de tratamento. Nos 4
meses subseqüentes, as doses são 600mg/dia de rifampicina e 400mg/dia de
isoniazida. A pirazinamida é suspensa nesta segunda fase de tratamento. Na
pericardite do infarto agudo do miocárdio não há tratamento. O prognóstico é
reservado por ocorrer mais freqüentemente nos infartos extensos. Deve-se,
entretanto, evitar no paciente infartado com pericardite o uso de
anticoagulantes.
7. Na pericardite por irradiação não há tratamento específico; o
prognóstico é reservado porque geralmente se acompanha de miocardite e de
fibrose pulmonar.
8. Na artrite reumatóide, usamos ácido acetilsalicílico
e, se não ceder, corticóides.
9. Na pericardite lúpica o tratamento é o do lúpus. Pode haver grandes
derrames.
10. Pericardite em síndrome de Dressler: ocorre tardiamente no infarto
agudo do miocárdio. É de origem imunológica e trata-se com repouso e
antiinflamatórios (aspirina, codeína etc).
A resposta ao esteróide é diagnóstica, devendo ser usado com cautela
devido a recidivas ou por poder prolongar o curso da doença. Sugere-se mais
modernamente o uso de estimulantes imunológicos como o levamizole.
Nos casos refratários há necessidade, ocasionalmente, de
pericardiectomia, quando recorrente, ou aos primeiros sinais de constrição
(onda V precoce).
Pericardite
constritiva:
È a principal
complicação da doença pericárdica. Decorre na maioria das vezes da evolução
inadequada da pericardite aguda, em que há organização do líquido pleural e
fusão das membranas pericárdicas, formando aderências, calcificação e
enrijecimento do pericárdio. Cirurgia cardíaca, Radioterapia pericardite
idiopática e pericardite
tuberculosa são as causas mais freqüentes, porém ela pode originar-se de
qualquer processo inflamatório do pericárdio
A pericardite
constritiva geralmente é um processo cicatricial simétrico que produz restrição
uniforme do enchimento de todas as câmaras cardíacas.
Os transtornos patofisiológicos da
pericardite constritiva resultam do encarceramento do coração dentro de um
pericárdio espessado, rígido, muitas vezes calcificado, pouco complacente,
prejudicando o desempenho cardíaco. Na diástole, o sangue atravessa o átrio e
atinge o ventrículo direito, que se expande rapidamente alcançando o limite
imposto por um pericárdio não complacente. Desta maneira, o enchimento
ventricular é subitamente interrompido, cessando o retorno venoso para o
coração direito, levando a uma elevação da pressão venosa central e falência do
coração direito. Simultaneamente, há prejuízo do enchimento ventricular
esquerdo com redução do débito cardíaco e da pressão artéria.
A tuberculose é a
etiologia mais freqüente na pericardite constritiva, porém este diagnóstico nem
sempre tem confirmação objetiva, haja vista a inespecíficidade diagnóstica
inicial e a negatividade de exames como bacterioscopia, cultura e
histopatologia pleuropericárdica, quando realizado tardiamente.
A sintomatologia
da pericardite constritiva é característica da "síndrome de restrição
diastólica" com sinais de insuficiência cardíaca direita, ascite, hepatomegalia,
congestão venosa, turgência jugular.
Os sinais e
sintomas da pericardite constritiva levam anos para se manifestar.Eles resultam
da redução do débito cardíaco com fadiga, hipotensão, taquicardia reflexa; e da
elevação da pressão venosa central, com estase jugular, hepatomegalia e edema
dos membros inferiores.
A ausculta
cardíaca caracteriza-se por ruído tipo “knock” precoce na diastólica, nos
pacientes com calcificação severa. Diferente do tamponamento cardíaco não há a
presença de pulso paradoxal. Na pericardite constritiva existe o ”sinal de
kussmaul” que ocorre pelo fato de que a geração da pressão intratorácica negativa durante a
inspiração não é transmitida através do pericárdio rígido para as câmaras
cardíacas direitas; desta maneira não ocorre aumento do enchimento ventricular
direito durante a inspiração, fazendo com que o aumento do retorno venoso
acumule-se nas veias sistemas torácicas, causando ingurgitamento jugular
durante a inspiração.
Exames:
-Raio-x:
O raio-x de tórax pode revelar silhueta cardíaca normal ou com
pequeno aumento; mas calcificação pericárdica(sugestiva de pericardite
constritiva)pode estar presente em 50% dos pacientes. Mesmo sem apresentar
calcificações o pericárdio pode tornar-se muito espessado, razão pela qual proporciona
grande dificuldade para o enchimento diastólico. No raio-x
em PA pode haver dificuldade de se visualizar as calcificações, pois podem se
confundir com a silhueta cardíaca, em perfil se vê perfeitamente as
calcificações do pericárdio.
-ECG:
Os achados
eletrocardiográficos incluem QRS de baixa voltagem, inversão ou achatamento
generalizado de onda T e anormalidades atriais esquerdas, sugestivas de P
mitral. A fibrilação atrial ocorre em menos da metade dos pacientes com
pericardite constritiva e pensa-se que esteja relacionado à elevação prolongada
das pressões atriais e ao aumento atrial.
-Ecodopplercardiograma:
Poderá demonstrar
espessamento pericárdico, e encontrar na maioria das vezes cavidades
ventriculares pequenas mas com poderosa contração
sistólica e interrupção abrupta do preenchimento diastólico, embora não tenha
alta especificidade.
-TC e RNM:
Na TC pode-se
identificar o espessamento pericárdico e outros achados compatíveis com a
pericardite constritiva, incluindo a dilatação das veias cavas e a deformação
do ventrículo direito e aumento das frações de enchimento dos ventrículos no
início da diástole. A não visualização da parede postero-lateral do ventrículo
esquerdo pela TC sugere fibrose ou atrofia miocárdica concomitante e indica um
mau resultado após a pericardiectomia.
Na RMN é a
provavelmente a técnica de imagem mais sensível, atualmente disponível para
delineamento da espessura do pericárdio, da morfologia do espessamento regional
ou anelar, calcificação,
relação das massas extracardíacas para o pericárdio é a superfície do coração.
-Cateterismo
cardíaco:
È pelo cateterismo
cardíaco que se confirma o diagnóstico. Há três sinais principais:
1- Elevação e equalização das
pressões diastólicas das câmaras cardíacas.
2- Os traçados pressóricos do
ventrículo direito e esquerdo mostrando precocemente na diástole configuração
em de “dep e platino” (em raiz quadrada) isso significa que tão logo o sangue
atravessa as válvulas átrio ventriculares há súbita elevação da pressão
ventricular, cessando precocemente o enchimento ventricular.
3- Os traçados pressóricos dos
átrios mostram onda Y descendente proeminente.
- Tratamento:
O único tratamento
efetivo para a pericardite constritiva é a remoção cirúrgica do pericárdio. Os
sinais e sintomas podem não regredir rapidamente, por causa do comprometimento
do miocárdio, apresentando-se atrófico pelo longo período de encarceramento.
Mas em 90% dos pacientes é esperado importante melhora clínica durante a
evolução.
A cirurgia na pericardite
constritiva é mais complicada do que uma “simples” pericardiectomia. O
pericárdio calcificado tem uma íntima relação com o epicárdio, às vezes,
algumas placas calcificadas penetram no epicárdio dificultando muito a retirada
do pericárdio.Na parte dos átrios é difícil retirar o pericárdio com as
calcificações por causa das coronárias, pode ocorrer uma lesão das coronárias
ao tentar retiraras placas. Nesse caso pode se indicar o uso de CEC (circulação
extra corpórea). Mas utiliza-se da CEC somente em
casos com muita dificuldade ou que já tenha lesado a coronária, pois o uso da
CEC pode dar algumas complicações ( fibrinólise;
síndrome de inflamação sistêmica).
È realizada uma
toracotomia medioesternal. Para retira o pericárdio com as placas, é necessário
seguir uma ordem: Primeiro deve-se liberar o ventrículo esquerdo e depois o
ventrículo direito, porque, se liberar primeiro o ventrículo direito este entra
em uma diástole normal, e vai bombear sangue para o átrio esquerdo e para o
ventrículo esquerdo, e este vai estar constrito, e com isso pode ter um edema
agudo de pulmão.Se for solto o ventrículo esquerdo antes do direito, quando
aumentar o bombeamento, o ventrículo esquerdo já estará solto.
Pericardite com Derrame
A efusão pericárdica pode-se desenvolver
como resposta à agressão do pericárdio parietal com todas as causas de
pericardite aguda . Pode ser clinicamente silenciosa , mas , se o acúmulo de liquido provocar o
aumento de pressão intrapericárdica , resultando em compressão cardíaca , os
sintomas de tamponamento cardíaco se desenvolvem . O desenvolvimento da pressão
intrapericárdica aumentada , secundaria à efusão
pericárdica , depende de vários fatores :
1- O volume absoluto do derrame.
2- A taxa de acumulo do líquido
;
3- Características físicas do pericárdio
em si .
O espaço pericárdico em seres humanos
normalmente contem entre 15 e 50 ml de liquido . Se
acumular lentamente uma quantidade adicional de líquido ,
o pericárdio se distende ; o saco pericárdico pode acomodar até 2 litros sem
aumento da pressão intrapericárdica . Contudo o saco pericárdico normal não
distendido pode acomodar a adição rápida de somente 80 a 200ml de liquido e
ainda permanecer na porção achatada da curva que relaciona pressão intrapericárdica
e volume . Se o líquido adicional for rapidamente
adicionado a um volume , ultrapassando cerca de 150 a
200ml , ocorre um acentuado aumento da pressão intrapericárdica (figura) . A
pressão intrapericárdica também pode aumentar acentuadamente após o acúmulo de
uma quantidade de liquido menor , se o pericárdio
estiver excessivamente rígido devido à fibrose ou infiltração tumoral ..
Derrames pericárdicos crônicas
persistentes por mais de 6 meses podem ocorrer em
qualquer forma de doença pericárdica . São , com
freqüência , surpreendentemente bem toleradas , sem sintomas de compressão
cardíaca e são descobertas quando uma radiografia de tórax de rotina revela um
aumento inesperado da silhueta cardíaca . È particularmente provável que se
encontrem derrames pericárdicos crônicos em pacientes com pericardite viral ou
idiopática prévia , pericardite uremica e pericardite
a mixedema ou neoplasia . Derrames pericárdicos cronicos também podem ocorrer
associadas com ascites e efusões pleurais no quadro de retenção de água e sal
crônico por várias causas , incluindo insuficiência
cardíaca crônica , síndrome nefrotica e cirrose hepática .
Efusão pericárdica sem compressão cardíaca :
Pacientes que desenvolvem derrame pericárdico ,sem elevação da pressão intrapericardica ,
podem não ter sintomas . Ocasionalmente , estes pacientes queixam-se de uma
dor surda , constante e opressiva ou de pressão no peito . Grandes derrames
pericárdicos podem causar sintomas por compressão mecânica de estruturas
vizinhas como a compressão do esôfago que causa disfagia ,
compressão brônquica ou traqueal que causa tosse , compressão pulmonar com
atelectasia que causa dispnéia etc . . . Náuseas e plenitude abdominal podem estar
presentes por pressão sobre as vísceras abdominais adjacentes .
Exame físico :
Um derrame pericárdico de grande volume
pode produzir vários achados característicos: abafamento de bulhas cardíacas , presença do sinal
de Ewart por compressão da base do pulmão esquerdo por liquido pericárdico (
Trecho maciço à ausculta abaixo do ângulo da escápula esquerda ) , estertores
podem ser ouvidos nos ca,pos pulmonares devido a compressão do parênquima
pulmonar .
Rx de tórax ;
O aumento da silhueta cardíaca não ocorre
até que no mínimo 250 ml de liquido tenham se acumulado no espaço pericárdico . O Rx poderá sugerir a presença de derrame pericárdico , se houver um rápido aumento no tamanho da
silhueta cardíaca , na presença de campos pulmonares livres ; em alguns casos .
o coração pode assumir uma forma globular ou de
moringa com apagamento dos contornos da
borda cardíaca esquerda .
ECG :
Redução de voltagem do QRS
, achatamento de onda T . A
alternância elétrica sugere a presença de derrame pericárdico maciço e
tamonamento cardíaco .
Ecocardograma :
É a técnica mais precisa
, rápida e largamente usada na avaliação da efusão pericárdica , no
acompanhamento do acumulo ou resolução do liquido e na avaliação do estado funcional
das válvulas cardíacas e do miocárdio .
Tratamento :
O significado clinico de qualquer derrame
pericárdico depende da presença ou não de comprometimento hemodinâmico devido à
pressão intrapericardica
aumentada e da presença e natureza da doença sistêmica de base .
O uso da ecocardiografia para estabelecer o diagnostico de efusão justifica-se
em casos suspeitos de pericardite aguda , porque a
presença de derrame é sugestiva, embora não seja diagnóstica , de
inflamação pericárdica . A pericardiocentese
não esta indicada , a menos que haja evidencia de
compressão cardíaca causada por tamponamento cardíaco ou a analise do liquido
pericárdico seja essencial para estabelecer um diagnostico , como pericardite
aguda bacteriana .
Tamponamento Cardíaco
Um aumento na pressão intrapericardica
, secundário ao acumulo de liquido dentro do espaço pericárdico ,
resulta em tamponamento cardíaco , que é caracterizado por : aumento das
pressões intracardiacas , limitação progressiva do enchimento diastolico ventricular
e redução do volume de ejeção e débito cardíaco .
A equalização das pressões intrapericardica e de enchimento ventricular
resulta em pressões de distenção transmural e volumes diastolicos de ambos os
ventrículos maracadamente diminuídos e uma queda no volume de ejeção . A redução no volume de ejeção é compensada
inicialmente pelos aumentos reflexos no tono adrenergico ,
a taquicardia e os aumentos na fração de ejeção ajuda inicialmente a manter o
debito cardíaco . Com o tamponamento cardíaco severo ,
à medida que o debito cardíaco diminui , mecanismos compensatórios não são mais
suficientes para manter a pressão arterial sistemica , e a perfusão de órgãos
vitais torna-se dificultosa ;a perfusão coronária reduzida leva à hipoperfusão
seletiva do subendocardio . A superposição de isquemia miocardica pode
comprometer ainda mais o volume de ejeção
Quase todos os. agentes etiológicos das pericardites podem produzir
tamponamento. Os mais comuns são:
-Doenças neoplásicas
-Idiopáticas ou virais
-Uremia
-Bacterianas
-Tuberculose
Entre os
principais achados clínicos destacam-se:
-Taquipinéia
-Taquicardia
-pulso paradoxal
-Aumento de pressão venosa
-Hepatomegalias
-PA sistólica inferior a 100mmHg
-Abafamento de bulhas
-Atrito pericárdico.
O pulso paradoxal,
descrito por kussmaul como “o paradoxo do desaparecimento do pulso durante a
inspiração enquanto os batimentos cardíacos estão normais”. Esse sinal pode
estar ausente se associado ao tamponamento, houver disfunção sistólica do
ventrículo esquerdo, hipertensão pulmonar ou hipertrofias cardíacas.
Quadro clínico e exame físico
Os sinais e sintomas característicos de falência circulatória e o
choque constituem a manifestação clínica típica; entretanto o achado mais
precoce é a taquipnéia acompanhada de taquicardia. Há, ainda, ansiedade,
cianose periférica e síncope devida à redução do débito cardíaco.
O pulso paradoxal é o sinal patognomônico, embora nem sempre esteja presente.
Por outro lado, também pode ser encontrado em afecções como a asma grave.
Outros achados incluem hipofonese de bulhas não obrigatória e
ruído diastólico precoce. O sinal de Ewart-Pins pode estar presente e
caracteriza-se por macicez e respiração brônquica à ausculta, ambos abaixo da
escápula esquerda. Porém pode ocorrer em grandes dilatações do coração, mesmo
sem derrame.
É possível que com o derrame pericárdico crônico, em presença ou
ausência de tamponamento, ocorre ascite, edema de membros inferiores e refluxo
hepatojugular.
No tamponamento, o ingurgitamento das veias do pescoço é maior que na
insuficiência cardíaca congestiva e, em geral, é monofásico. Eventualmente, no
derrame crônico pode haver edema facial e cianose labial decorrentes da
compressão das veias cavas.
Classicamente, o tamponamento cardíaco caracteriza-se pela tríade de
Beck, isto é, pressão venosa aumentada, pressão sistólica diminuída e coração
quieto. Nos casos extremos, o pulso paradoxal pode até sumir na inspiração e
geralmente é superior a 25mmHg .
Pode haver derrame pleural uni ou bilateral em decorrência do aumento
da pressão venosa por retenção renal de sódio e água, havendo ainda a
possibilidade de evolução para cirrose cardíaca. Tais características são
encontradas no tamponamento cardíaco crônico.
Métodos diagnósticos
-ECG:
O ECG pode
apresentar as mesmas alterações da pericardite aguda com complexos de baixa
voltagem e, em alguns casos, alternância elétrica do complexo “QRS”, onda “P”
ou “T”, sugestivo de derrame volumoso.
Radiografia
de tórax:
No tamponamento cardíaco (ou efusões grandes), a
radiografia de tórax pode demonstrar uma silhueta cardíaca aumentada depois de
200 a 250 ml de acumulação fluida. Isto acontece em pacientes com acumulação
fluida lenta comparada a uma silhueta cardíaca normal vista em pacientes com
acumulação rápida .
-Ecodopplercardiograma:
È um bom exame
diagnostico. Pode encontrar: colapso diastólico do átrio direito ou esquerdo;
colapso diastólico precoce do ventrículo direito, aumento anormal inspiratório
do fluxo tricúspide e diminuição do fluxo mitral.
Diagnóstico diferencial
As principais condições incluídas são representadas pela insuficiência
cardíaca crônica, cuja etiologia pode ser variada e pelo embolismo pulmonar.
Tratamento
É caracterizado pela pericardiocentese que consiste no acesso à região
formada pelo ângulo entre o processo xifóide e o arco intercostal por meio de
uma agulha aspiradora conectada a um "jacaré" nas precordiais e
direcionada para o ombro direito. A elevação dos segmentos ST ou PR indica que
a agulha atingiu o miocárdio, sendo necessário retrocedê-la alguns mm. A
presença de um aspirado contendo líquido hemorrágico requer a medida do seu
hematócrito, já que o líquido proveniente do saco pericárdico caracteriza-se
por possuir hematócrito menor que o do sangue periférico e por ser
incoagulável. Este procedimento é de extrema importância, pois orienta quanto à
origem do aspirado.